Valter Lemos
OS CORTES NO ANO LETIVO
O ano letivo vai começar mais tarde. Poderia haver uma explicação para isso, mas não há. O ministro Crato veio dizer que era para a duração dos períodos letivos se aproximar mais. A explicação se não fosse ridícula era estúpida, porque como se sabe é a mobilidade da Páscoa que determina a alteração da duração dos períodos letivos e como a Páscoa muda todos os anos, a explicação do ministro implicava que o início do ano letivo passava a mudar todos aos anos, o que, a ser verdade, significaria uma entropia total nos ritmos das famílias.
O ministro, uma vez mais, se prestou a um papel ridículo e tentou fazer de parvos todos os pais e os portugueses em geral. Toda a gente percebeu que a decisão se deve somente ao facto do governo ter medo das asneiras que têm marcado a colocação de professores nas mãos deste ministro e deste governo. A história diz-nos que governos do PSD/CDS não são capazes de dar conta do recado na colocação de professores. Em 2004/2005 no governo Santana Lopes/Paulo Portas foi o descalabro total. O governo seguinte teve que resolver esses problemas e estabilizar a colocação de professores. Nos anos seguintes não voltou a haver problemas. Os professores foram colocados sempre a tempo e horas para o início do ano letivo, introduziu-se a colocação por três e anos e depois por quatro anos, introduziu-se a renovação automática dos contratos, etc. Veio novo governo PSD/CDS e o “rigoroso” ministro Crato e voltámos à incompetência na gestão dos concursos, aos atrasos nas colocações e aos problemas de arranque do ano letivo.
Mas, sendo este ano eleitoral, como acharam as luminárias políticas do governo e o inefável ministro que se resolvia o problema? Assegurando que as colocações se faziam adequadamente e a tempo e horas? Não! Atrasando o início do ano para que as previsíveis asneiras tenham menos impacto no período eleitoral. Que interessam os alunos, os pais, os professores e todos os outros face aos interesses eleitorais do governo?
Mas, toda a crítica que esta decisão merece, pelos efeitos perversos que tem na dinâmica social, acentua-se por vir de quem vem. É preciso lembrar que Crato e alguns dos seus amigos andaram anos a perorar contra a incapacidade do ministério da educação em fazer cumprir rigorosamente o ano escolar e a criticar a curta duração do ano escolar em Portugal em comparação com outros países. Mas, o que fez o ministro? Com a cegueira dos exames do 4º e do 6º ano, encurtou o final do ano escolar no básico. Pôs os alunos a fazer exames em Maio e retirou várias semanas de trabalho letivo. Os alunos até podem lá andar, mas depois de fazerem os exames finais, fazem o quê? Agora, por incapacidade de gestão da colocação de professores corta no início do ano? Isto não é política nem boa nem má. Isto é a irresponsabilidade à solta.
A SITUAÇÃO DA GRÉCIA
Estive na Grécia duas vezes há alguns anos. Vim convencido que o país tinha graves problemas de administração e que as estatísticas gregas estavam falseadas. Penso pois que os governos gregos terão responsabilidade significativa na situação atual. Mas, não sendo eu simpatizante do Siriza, tenho que admitir que não foi o atual governo que governou anteriormente a Grécia. Foram governos democratas-cristãos e socialistas, amigos dos governos da Alemanha, da França e restantes países europeus. Porquê esta intransigência com este governo e tanta transigência com os anteriores?
Aqueles que pensam, porque estão de barriga um pouco menos vazia do que os gregos, que a Grécia deve sair do euro ou da UE, é melhor que ponham as barbas de molho. Ninguém sabe os efeitos da saída, mas, uma coisa é certa, não são bons, é provável que sejam muito maus e Portugal é o país em pior situação.
A gestão do processo pela UE tem sido catastrófica para a Europa e para o ideal europeu. Os prejuízos já causados ao processo europeu são tão graves que nem sei se, em qualquer circunstância, serão reversíveis. Mas, uma pergunta fica no ar. Se estas decisões vierem a criar uma crise noutros países europeus e/ou se conduzirem ao desaparecimento do euro ou a maior enfraquecimento da UE, quem vai responder por isso?